quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Xerém

Olá a todos

No primeiro post do ano falo de um assunto muito chato e caro em cada verão que passa no Rio de Janeiro, as chuvas. De dezembro à março o estado é atingido por um grande volume de calor e chuvas causando transtornos de todo tipo e também tragédias. Em 2011, o Rio foi palco de uma das maiores catástrofes naturais do país, com os seguidos temporais na região Serrana deixando mais de 1000 mortos e um rastro de destruição. Até hoje as pessoas que perderam tudo no verão de 2011 não receberam as casas prometidas pelo governo. O dinheiro repassado para atender as vítimas da enchente sumiu e os que sobreviveram à tragédia se viram como podem. Muitos moradores voltaram para suas casas em áreas de risco e muitos bairros de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo estão completamente desertos como se fossem cidades-fantasmas. 
Um carro é levado pela correnteza enquanto bombeiro procura
por pessoas nas casas devastadas pela chuva  - Foto Futura Press
No início de 2013 foi a vez de Xerém, um bairro do município de Duque de Caxias, sofrer com as fortes chuvas. O estrago foi enorme, o que pode ser visto por meio das câmeras de TV que lá estiveram. Aquelas cenas mexeram comigo, pois também moro numa área de risco e em cada verão preciso ficar bem atento no nível do rio toda vez que chove forte. Após iniciar os pedidos de doações fui tocado de alguma forma para fazer algo. Queria ir ao local e ver de perto como funciona todo este processo. Na quarta-feira, 09 de janeiro, ouvi uma linda palavra no culto que confirmou meu desejo de fazer algo. Ela falava de uma palavra expressa na bíblia no livro de Gálatas 6.9,10 que diz " E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos. Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé". O versículo é lindo e é claro que eu não precisava ler um versículo bíblico para fazer o bem a alguém, mas a motivação vinda da palavra é fundamental. Infelizmente a maioria das pessoas consideram o fazer o bem a alguém como um favor e não como um fim em si mesmo. Fazem o bem sempre esperando algo em troca e penso que esta não é a motivação correta para fazê-lo. 

Igreja Metodista Wesleyana, em Xerém, principal local de recebimento
de doações do bairro - Foto: Fernando dos Santos
Eu tinha muitas roupas que não usava mais e que estavam em ótimo estado. Eu fui com a Wania, minha namorada, para Xerém na sexta, 11 de janeiro, com duas mochilas lotadas e mais uma grande sacola também cheia. A viagem da Cidade de Deus até Xerém foi cara, longa e cansativa. Entre a ida e a volta se foram aproximadamente 12 horas na rua, mas valeu à pena. Chegamos à Igreja Metodista Wesleyana, no centro de Xerém, e entregamos as roupas. A igreja é o principal local de recebimento de doações no bairro. E lá soubemos das dificuldades enfrentadas pelos voluntários como o sumiço dos carros da prefeitura, que contava com apenas 5 veículos para levar todas as doações para as pessoas atingidas. Conversando com um dos responsáveis pelo recebimento dos donativos fiquei sabendo que pessoas se passavam por voluntários e roubavam as doações. Elas prometiam levar os donativos nas casas das pessoas e sumiam. E histórias de pessoas que retiravam doações sem precisar delas. A bagunça no local era grande, as roupas e calçados estavam espalhados pelo chão. Ainda assim vi muitos voluntários trabalhando e se esforçando para restabelecer a ordem no local, separando as roupas e servindo comida para aqueles que não podiam voltar para as suas casas.

Observo o trabalho dos voluntários na tentativa de dar
alguma ordem às doações. Foto: Wania Xavier
A Wania queria ajudar mais, pois cursa faculdade de Serviço Social e seria uma grande experiência de vida para ela poder acompanhar as assistentes na distribuição dos donativos nas casas dos moradores. Mas a falta de veículos a impediu de fazê-lo. Assim ficamos pouco tempo em Xerém e logo retornamos ao Rio. Mais R$ 6,30 cada um no 486C - Xerém/Passeio para mais uma longa viagem. Voltei para casa com algumas lições de Xerém: 1 - Não importa a classe social, cor/raça, ou crença, na hora da tragédia todos precisam de todos. 2 - É muito bonito ver pessoas cedendo seu tempo para se dedicarem àqueles que precisam de ajuda. 3 - Infelizmente há pessoas que não respeitam nem as tragédias alheias, como no caso daqueles que roubavam as doações. 4 - Todos nós podemos fazer algo, mesmo que seja uma ação pequena, e na maioria das vezes não nos custará nada fazê-lo. 5 - Precisamos pensar um pouco menos em nós e mais nos outros (isso com certeza é o mais difícil de se fazer).

486C - Xerém/Passeio, ônibus que nos levou de
volta para o Rio. Foto: Fernando dos Santos
Eu agradeço a Deus pela oportunidade de fazer algo naquele dia. e desejo que os moradores de Xerém se ergam logo e se recuperem desta tragédia. 

Grande abraço 
Fernando...