segunda-feira, 24 de junho de 2013

O Dia D dos protestos no Rio de Janeiro


Os últimos dias foram marcados por eventos que, literalmente, incendiaram o país. Os protestos de rua que começaram por causa dos 20 centavos e depois chegaram à conclusão que não eram apenas os ditos 20 centavos, marcaram o Brasil em praticamente todos os estados. O Movimento Passe Livre conseguiu com que as tarifas fossem reduzidas em várias partes do país, inclusive nos estados mais “teimosos” e relutantes como Rio de Janeiro e São Paulo. É claro que, junto com as manifestações veio uma explosão de violência sem precedentes causando, inclusive, mortes em  pelo menos dois estados.
  
Concentração em frente à Igreja da Candelária 
O Dia "D" aqui no Rio de Janeiro foi na quinta-feira, dia 20, um dia após prefeito e governador anunciarem a redução da tarifa. Resolvi ir com amigos da faculdade. Eu até esperava passar dificuldades por conta da violência crescente que marcou os outros protestos que ocorreram na cidade. Mas não esperava passar pela verdadeira aventura que foi àquele dia. Muitas eram as reivindicações, desde a PEC 37, a Proposta de Emenda Constitucional que limita o poder de investigação do Ministério Público, o fim da corrupção, ]a melhor utilização dos recursos públicos e até a não realização da Copa e da Olimpíada.

No início tudo estava lindo, as pessoas com suas faixas e cartazes desfilavam pela Avenida Presidente Vargas, a principal do Centro da Cidade. Já passava das 16 horas e a concentração de gente era grande. A preocupação com os estabelecimentos públicos e particulares era grande, pois os bancos e as lojas eram o principal alvo dos vândalos que sempre saqueavam as lojas quando o protesto chegava ao fim. A saída encontrada por eles foi tampar as fachadas com tapumes, o que acabou se revelando atitude insuficiente para conter os bandidos. Os tapumes foram usados como escudos pelos manifestantes que partiram para cima da tropa de choque.

Alguns cartazes eram interessantes, muitas pessoas se utilizaram do humor para passar sua mensagem. O protesto de quinta não tinha um objetivo definido, algo que me incomodou um pouco. Era um protesto sobre tudo o que incomodava a população. Por um lado este caráter fragmentado das manifestações se mostrou interessante pelo fato de não haver apenas uma ou duas demandas a serem resolvidas para a população. Pelo outro achei ruim por conta de serem tantas vozes a serem ouvidas que receio que nem todas encontrarão ouvidos para tal. Muitas pessoas usavam a máscara símbolo do anonymous que, ao meu ver, não tinha nada a ver com Brasil. Mas tudo bem, é minha opinião sobre o assunto. Você poderia encontrar uma pelo preço de 10 reais. 
Muitos cartazes traziam mensagens contra a PEC 37


Ainda assim, de acordo com estimativas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Não sei como só existe eles para fazerem isso) cerca de 300 mil pessoas estavam presentes no protesto. Eu, particularmente, achei que tinha muito mais gente. O objetivo era partir da Candelária e terminar na Prefeitura Municipal, que ficava no final da avenida. Não achei uma boa ideia, pois nas últimas manifestações os incidentes ocorriam justamente porque as pessoas queriam depredar os órgãos do governo. Foi assim em São Paulo, Brasília e no próprio Rio quando pessoas tentaram invadir a Assembléia Legislativa no protesto de segunda feira (17).

Não deu outra, quando chegaram à prefeitura a confusão começou. Algumas pessoas iniciaram brigas e incendiaram tudo o que viram pela frente, inclusive um carro da reportagem do SBT. Não consegui avançar para ver o que estava acontecendo lá na frente. Fiquei encaixotado no meio sem ter chance e coragem de ver o que ocorria lá na frente. Então recuamos e voltamos em direção ao ponto de início da passeata. Até aí, tudo tranquilo, mas quando o grupo começou a chutar e derrubar os tapumes da obra de uma biblioteca começou a confusão perto do meu grupo.

O Batman e a Batgirl vieram com suas mensagens
Cada um correu para um lado e para rua que a gente ia um conflito estava acontecendo. Tentamos chegar na estação do metrô da Carioca e uma galera voltava de lá dizendo para não irmos por ali. Então tentamos chegar na zona portuária e mais uma vez um mundaréu de gente voltando dizendo para não ir para lá. Foi aí que um do grupo teve a brilhante ideia de subir num morro localizado no bairro da Gamboa, colado no Centro do Rio. Enquanto a multidão vinha, entramos na ladeira. Havia dois policiais patrulhando a entrada da ladeira, quando viu a gente entrando apressadamente na rua, um deles desembainhou pistola, mas quando viu que o grupo era pequeno e pacífico recolheu a arma e deixou a gente subir.

A esta altura eu já estava desesperado, tentei argumentar para não entrarmos ali, mas não fui ouvido e a galera foi subindo, subindo. O cara que deu a brilhante ideia disse depois que tinha visto a rua no Google Maps, vê se pode? Fomos orientados pelos moradores a entrar numa igreja que tinha lá em cima. No local nos receberam super bem e dali escutamos o barulho de tiros e bombas, ou seja, o negócio estava brabo lá embaixo.

Quando o negócio acalmou fomos levados por moradores da região ao outro lado da comunidade para tentar pegar um ônibus para casa. Conseguimos chegar na zona portuária e a um lugar mais tranquilo para todo mundo pegar seus respectivos ônibus e irem para suas casas. Eu fui o que mais se ferrou nessa, pois a empresa que fazia a linha que me levaria para casa recolheu todos os ônibus e só consegui chegar em casa as 2 da manhã. Pensei, sinceramente, que a gente ia se dar muito mal quando entramos na comunidade em que ninguém conhecia. Mas graças a Deus acabou tudo bem. Ainda brinquei que a gente agora, tinha histórias para contar aos nossos filhos e netos rs.
Mascaras do anonymous se espalhavam pela passeata


Infelizmente, a violência foi a marca da maioria dos protestos, mas acredito que o principal objetivo foi alcançado que foi incomodar o governo. Também foi importante para mostrar que o povo começou a lutar por direitos que não estavam sendo respeitados e, que passam por várias esferas de atuação do estado, como destinar mais verbas e principalmente atenção para saúde e educação. Ainda acho que está só no início e que este movimento com muitas vozes, mas sem um líder específico precisa evoluir. Acredito que a maioria quer um país melhor e foi por isso que resolvi ir. Espero que da próxima vez passe menos sufoco.



Grande abraço
Fernando dos Santos

sábado, 8 de junho de 2013

Dia de jornalista nos 15 anos do jornal Extra


Olá a todos

Redação de vidro na praça XV de Novembro
Em comemoração aos seus 15 anos, o Jornal Extra promoveu um evento em que sua redação estaria localizada, durante toda a semana, na praça XV de novembro, no centro do Rio. Lá, fez exposições das capas mais marcantes do jornal além de convidar artistas e personalidades para um bate-papo com o público. Achei legal a iniciativa, pois, de certa forma, aproxima o jornal do público, além de instigar a curiosidade das pessoas em saber o que estava acontecendo ali. Eu como um bom estudante de jornalismo quis ir lá conferir.


Celulares e mais celulares tentando uma fotinha da Nicole 
Uma das “iscas” promovidas pelo jornal foi a presença de mulheres na redação de vidro, mulheres bonitas, famosas e que fariam um ensaio fotográfico ali bem pertinho das pessoas. Apelaram para Viviane Araújo, Gracyane Barbosa, Mulher Melancia, entre outras. Não deu outra, lotou de gente querendo ver ou tirar algumas fotos. Fui lá na quarta-feira (dia 5) e quem estava fazendo o ensaio fotográfico era a repórter do "Pânico" Nicole Bahls. O alvoroço era grande e percebi que a importância da história do jornal estava mesmo jogada de lado.  O público estava ali mesmo para ver a Nicole e estavam pouco se lascando para o evento em si.

Exposição das capas marcantes nos 15 anos do jornal

Fiquei pensando se o evento teria um público maior se não tivesse este apelo. Se, para atrair alguma platéia é necessário colocar uma modelo com pouca roupa para ter uma aglomeração e depois tirar uma foto bonita e colocar na capa do jornal. Enfim, deixando as críticas de lado, achei bacana a ideia. Numa época em que o jornalismo, principalmente o impresso, anda numa expectativa diária entre o risco ou não da extinção, é legal comemorar esta data importante.

Entrevista com lutadores Toquinho e Sheymon


O Extra está entre os jornais mais vendidos do país com circulação média diária de mais de 200 mil exemplares. E o evento ficou na praça XV durante a semana toda. Na quarta-feira, além do ensaio fotográfico, teve um bate-papo com os lutadores do UFC, Toquinho Palhares e Sheymon Moraes. Eles contaram um pouco da história deles no esporte e interagiram bastante com o público.


Acho que valeu pelo evento, que reuniu muitas pessoas entre atores, esportistas e cantores. Legal poder montar uma grande estrutura e levar a redação para a rua, onde é o terreno do jornal e onde consegue as pautas e os assuntos a serem veiculados no dia seguinte. Muitos criticam o fato dos jornalistas estarem menos nas ruas, desta vez estavam todos na rua rs. Legal esta tentativa de aproximação com o público.

Gde abrss
Fernando

segunda-feira, 3 de junho de 2013

O dia em que fui interrogado por bate-bolas



Olá a todos

Na vida às vezes passamos por cada uma, que nem acreditamos depois que acontece. Certa feita estava eu voltando da casa de um amigo na minha bicicleta cross, de cor preta e pneus vermelhos. Ela estava velha, sem freio e com os pneus bem carecas. Ah, além disso, as correntes tinham um péssimo hábito de sair quando atingia certa velocidade. Era época de carnaval e a rua estava com certo número de bate-bolas nas ruas com suas fantasias fazendo barulho. Eles são aquelas pessoas que ficam fantasiadas na época de carnaval, geralmente usam máscaras esquisitas e andam em grupo fazendo barulho. Só os vejo durante o carnaval mesmo.

Passava das onze e meia da noite, vinha em velocidade de cruzeiro pela pista quando ouço uma voz a me chamar. “Ei, você espera aí”. Pensei “Caramba, uma hora dessas vão roubar minha bicicleta”. Como estava correndo bem, tive um pouco de dificuldade na hora de frear a bike, coloquei o pé no chão arrastando no asfalto parando a bicicleta. Pensei em correr, acelerar o passo, mas lembrei nas inúmeras vezes que fiz isso e a corrente saiu, minha canela estava cheia arranhões por conta disso. Então parei, avistei de longe, eram os Clóvis, aqueles bate-bolas ditos mais sofisticados de vestido e sombrinha na mão. Tinha uns três ou quatro, todos fantasiados. “Vou ser roubado por um bate-bola???”  

Fantasias dos Clóvis no carnaval (Foto Google)
Quando o cara de fantasia lamentável chegou até mim na rua escura e deserta falou: “Cadê a bolsa da tia?” Tia? Ele estava me confundindo com alguém, só pode. Ou estava arrumando uma desculpa para que eu descesse da bicicleta para ele levá-la. Eu não faria muita resistência porque a bicicleta era velha demais para que eu a protegesse com a vida. Perguntou mais uma vez: “Cadê a bolsa da tia?”. Expliquei toda a situação, como de onde vinha e para onde iria e tal, mas não adiantou. Os outros chegaram e me cercaram, eu estava realmente sem saída. Não tinha como provar que não era eu, a não ser o meu próprio testemunho. Então eles resolveram me escoltar até a moça que foi roubada.

A rua dava entrada a um conjunto de residências. No caminho até a porta da casa da moça da moça um aglomerado de gente entre menores e maiores, bate-bolas e Clóvis me rondavam como que acompanhando uma autoridade, ou cercando um bandido para que não fuja. Me senti muito acuado, agora não tinha nem como correr. Umas vinte pessoas se preparando para me "juntar" ali mesmo, apenas esperando o “ok” de alguém, talvez da tia. Eles gritavam coisas do tipo. “Se foi você, cara, vou metê-le a porrada!!” Já estava prevendo o final, como a bolsa da tia não estava comigo, eles iam me moer na pancada, jogar meu corpo em alguma esquina e dar um sumiço na minha pobre bicicleta. Antes de chegar à casa da tal tia, um alento, algumas pessoas reconheceram a diferença entre minha bicicleta e a do ladrão e começaram a falar que não tinha sido eu.
Quando chegamos na porta da casa da mulher expliquei toda a história novamente e os Clóvis exultantes crentes que estavam fazendo justiça:
- Foi ele tia?
- Se foi ele eu não sei por que não vi e estava escuro...

Argumentei que fazia aquele caminho quase todos os dias indo na casa de um amigo e que jamais faria uma coisa dessas. E, não havendo provas do crime, foram obrigados a me liberar. Acelerei a bike até o final da rua de forma apressada. Realmente algumas pessoas viram que a bicicleta era diferente, foi a minha salvação. Na esquina da rua, um senhor me parou. Era um homem de idade mais avançada e queria saber o que tinha acontecido. Via toda aquela movimentação à minha volta. Falei tudo a ele, ele perguntou onde morava, falei Cidade de Deus, àquela mesma do filme.

Os pneus da minha bike eram assim (Foto Google)
No final ele disse que eu não tinha cara de quem fazia isso. Cara de quem rouba bolsas de tias. Fiquei feliz com a declaração dele, apesar de achar errado julgar as pessoas pela cara, foi bom saber que eu não tinha a tal cara de quem faz isso. Me cumprimentou e pude ir para casa com mais tranquilidade. Cheguei tenso e em silêncio, não falei nada para ninguém. Minha bicicleta não duraria muito, sugava ela até não poder mais andar além de não me permitir imprimir uma fuga dos Clóvis. Dei graças a Deus que saí dessa. Desde então passei a ter receio de ser confundido com ladrões e assaltantes por aí, muito embora não pudesse prever este tipo de situação. Uma coisa era certa, já não gostava de bate-bolas, depois disso passei a gostar ainda menos.

Esta história é real, passei por isso mesmo. Como os amigos da escola zoavam "É um fato venério" rs. Eu consigo rir disso hoje, apesar de ter temido demais no dia.

Grande abraço
Fernando
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