O Rio de Janeiro nos proporciona belas cenas tiradas da
lente de fotógrafos, diariamente. São cenas de sol, mar, praia e gente bonita;
são cenas da vida sendo vivida da melhor forma possível e das mais variadas
formas. Esta semana, porém, pude ver de perto um Rio diferente. Um Rio das
crianças perdidas, das crianças esquecidas e entregues a mais cruel
marginalidade.
Estão em grupo sedentos por mochilas cheias de valores,
cheias de história, cheia de coisas de valor. Passaram por mim e por todos que
estavam no ponto esperando o ônibus. Menores que muitos querem presos, que
muitos querem mortos. Eles atacam um rapaz que reage. Não solta a mochila e
foge correndo. Eles, então, correm atrás do cara gritando “Puxa a faca pra
ele!! Puxa a faca pra ele” O homem some da vista e, em seguida, passa um ônibus
e todos os 16, 20 entram pela porta de trás e vão embora sob os olhares
assustados de todos e do meu coração acelerado.
Fiquei com um misto de raiva e impotência. O que fazer?
Reagir caso fosse atacado ou olhar minhas coisas de valor irem embora assim tão
facilmente. Depois, mais calmo, me pus a pensar não só na condição daqueles
adolescentes, mas na maldade que havia neles. Eles eram cruéis e não se
importaram com nada. Trabalharam com o medo e o pavor com que as pessoas saem
todos os dias nas ruas de nossa cidade. Sim, saímos e não sabemos se voltaremos
vivos.
Essa verdade todos nós sabemos, mas parece que agora está pior. Agora
podemos não voltar mais para casa por conta da violência praticada por um
menor. Isso, sem contar a longa discussão sobre a redução da maioridade penal,
sobre a qual sou contra, pois sei que o Estado não tem nenhuma política que
possa recuperar menores infratores. Por isso, não consigo ser a favor da redução. Não vejo ninguém fazendo nada para recuperar esses jovens, apenas o desejo de punição e justiça, que ajuda mas não resolve.
Menores esses que já estão soltos. Como recupera-los? Não
existe estrutura que possa recebe-los de forma a cuidar deles para que não
voltem para o mundo do crime. Para piorar, sim, bastam todas as outras formas
utilizadas. Ver pessoas tão jovens exercendo um nível de maldade daquele jeito
me levou a uma profunda reflexão sobre o assunto cuja resposta ainda não
consegui chegar. Uma coisa é certa. A misericórdia de Deus está presente em
nossas vidas todos os dias. Somente isso explica eu e você voltarmos vivos para
casa depois de um dia na rua neste Rio de Janeiro.
Grande abraço a todos.