Semana passada estava eu no ponto para esperar o ônibus que me levaria da universidade até o estágio no Centro do Rio. Quando me aproximava, avistei um mendigo jovem cantando em alta e linda voz a música "Acredite", da cantora gospel Jamile, aquela que começa: "Acredite que nenhum de nós já nasceu com jeito para super herói..." Fiquei olhando para o cara cantando a música e pensei no caminho que ele deve ter trilhado até chegar ali. Nas derrotas e quedas que ele teve na vida até chegar naquele ponto, visivelmente drogado e cantando uma música que tem como principal mensagem, a esperança.
Por outro lado, penso também nas milhares de pessoas que vivem nas ruas deste imenso Rio de Janeiro. Muitas delas tem casa, fugiram dela ou foram colocados para fora. Muitos outros encontraram no vício das drogas a saída para aguentar a situação precária em que vivem. Como não enlouquecer em um lugar onde a carência é total e a audiência é zero. Audiência esta que via o homem cantar e passava adiante, sempre tem aquele que ri, tem aquela senhora que aperta mais a bolsa contra o peito para se proteger contra um possível assalto e tem aquele que se afasta temendo um ataque.

Quando vemos uma pessoa em uma situação de miséria total na rua, temos que parar para pensar. Se ele, mesmo em sua loucura pode cantar "Acredita" o que dirá de nós, meros mortais tremendamente abastados e com um bom teto para dormir. Não quero que pense sobre esse texto como aqueles com palavras de ordem sobre olharmos mais para o outro. Mas a verdade seja dita; passamos tanto tempo olhando para nós mesmos que esquecemos que há um mundo muito cruel lá fora e muita gente sucumbindo a ele.