Terça-feira chuvosa. Bom para ficar em casa. Bom para não sair na rua. Me alertaram sobre isso, a rua não estava boa, mas precisava sair, precisava levá-la até em casa. Não tinha como não passar por ali. Mas estava chovendo e estaria tranquilo. Aí vieram os fogos, tá rá rá rá bummmm!!! Logo em seguida os tiros (não acho necessário fazer o barulho aqui). Ação e reação, vira uma rua aqui e outra ali para não passar no meio do sinistro. Poxa vida, estava chovendo, e muito, esses caras não descansam nem na chuva? Se abateu uma tristeza sobre mim. Sabe, você não poder andar com segurança no seu bairro? No no seu país?
No país, tudo bem, mas, no seu bairro? O seu bairro é onde você mora. É onde você tem que estar todos os dias, mas não. Imaginei que poderia morrer ali, ser atingido, baleado, confundido, ser qualquer coisa. A comunidade não estava pacificada?. Sim, ela está mesmo pacificada. Os homens estão aqui, estão ali, as vezes não estão, mas, no geral, estão. Eles precisam agir, precisam assumir, precisam confrontar, as vezes precisam até atirar. Definitivamente não me sinto seguro no meu lar. O nosso lar é sagrado, meu terreno, meu bairro. Bairro esse que não é meu, não nasci aqui, não cresci aqui, simplesmente me instalei aqui, virou meu lar. Lugar que demorei a conquistar, lugar que aprendi a amar e a chamar de meu.
O Rio de Janeiro passa por um momento terrível onde explode o crime e a violência. A sociedade pensa que fazer justiça com as próprias mãos resolve o problema, mas, não. Prendem crianças no poste, tiram-lhe a roupa e o expõem ao ridículo. Esquecem que ele é mais uma vítima, esquecem que ele machuca por tanto ter sido machucado. Vejo pessoas assim todos os dias, pessoas acabadas, pessoas esquecidas. Na favela, a igreja faz milagres todos os dias, mas não resolve tudo. A polícia não está lá para resolver tudo. O povo precisa mudar, as mentes precisam mudar, mas como? As pessoas estão vazias, sedentas, mas do quê? Vivem fazendo merda, vivem metidas no que não presta, e o fazem continuamente ainda que a morte os rodeie com os revólveres cheios de munição dos dois lados do tabuleiro.
As pessoas precisam de ajuda, elas precisam procurar ajuda, mas não o fazem. Preferem ficar ali paradas na esquina como o funk diz para elas ficarem. O que fazer? Preciso orar, preciso clamar por esta cidade. Não quero ver este lugar assim, mais parecido com o filme de mesmo nome. Todo mundo reclama do filme, eu vejo o filme quando ando por aqui. Vejo um filme que não quero ver mais, vejo um filme que quero muito que termine. Pois amo muito esta cidade, amo muito este bairro, amo demais este lugar, esta Cidade chamada De Deus.
Grande abraço
Fernando